Quinta-feira, 21 Setembro, 2023
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“Todos são admitidos”

«Eis as duas condições para ser curado, para ter acesso ao Coração de Jesus: sentir-se necessitado de cura e confiar n’Ele»

O Evangelho deste domingo (cf. Mc 5,21-43) apresenta dois prodígios feitos por Jesus, descrevendo-os quase como uma espécie de marcha triunfal rumo à vida.

Primeiro, o Evangelista narra o episódio de um certo Jairo, um dos chefes da sinagoga, que vai ter com Jesus suplicando-lhe que vá a sua casa porque a filha de doze anos está a morrer. Jesus aceita e vai com Ele; mas, ao longo do caminho, chega a notícia de que a jovem tinha morrido. Podemos imaginar a reação daquele pai. Mas Jesus diz-lhe: «Não temas; basta que tenhas fé!» (v. 36). Quando chegam à casa de Jairo, Jesus manda sair as pessoas que choram — havia também carpideiras, que gritavam — e entra no quarto só com os pais e os três discípulos e, dirigindo-se à defunta, diz: «Menina, ordeno-te: levanta-te!» (v. 41). E imediatamente a jovem se levanta, como se tivesse acordado de um sono profundo (cf. v. 42).

Na narração deste milagre, Marcos insere outro: a cura de uma mulher que sofria de hemorragias e fica curada assim que toca no manto de Jesus (cf. v. 27). Aqui, impressiona o facto de que a fé desta mulher atrai — tenho vontade de dizer, “rouba” — o poder salvífico divino que há em Cristo, o qual, sentindo que uma força «tinha saído dele», procura entender quem era. E quando a mulher, com muita vergonha, vai em frente e confessa tudo, Ele diz-lhe: «Filha, a tua fé te salvou!» (v. 34).

Trata-se de duas narrações interligadas, com um único centro: a fé; e mostram Jesus como nascente de vida, como Aquele que restitui a vida a quem confia plenamente nele. Os dois protagonistas, ou seja, o pai da menina e a mulher doente, não são discípulos de Jesus, e no entanto são atendidos devido à sua fé. Têm fé naquele homem. Através destas narrativas compreendemos que no caminho do Senhor todos são admitidos: ninguém deve sentir-se um intruso, um ilegal ou alguém sem direitos. Para ter acesso ao Seu coração, ao Coração de Jesus, só existe uma condição: sentir-se necessitado de cura e confiar nele. Pergunto-vos: cada um de vós sente necessidade de ser curado? De algo, de algum pecado, de algum problema? E, se sente isto, tem fé em Jesus? Eis as duas condições para ser curado, para ter acesso ao Seu Coração: sentir-se necessitado de cura e confiar nele. Jesus sai para descobrir estas pessoas no meio da multidão e retira-as do anonimato, liberta-as do medo de viver e de ousar. Fá-lo com um olhar e com uma palavra que os encaminha de novo, depois de tantos sofrimentos e humilhações. Também nós somos chamados a aprender e a imitar estas palavras que libertam e estes olhares que restituem, a quantos a perderam, a vontade de viver.

Nesta página evangélica entrelaçam-se os temas da fé e da vida nova que Jesus veio oferecer a todos. Quando entra na casa onde a menina jaz morta, Ele manda sair aqueles que se agitam e se lamentam (cf. v. 40), e diz: «A menina não morreu. Ela dorme!» (v. 39). Jesus é o Senhor, e diante dele a morte física é como um sono: não há motivo para desesperar. A morte que devemos recear é outra: a do coração endurecido pelo mal! Dessa sim, devemos ter medo! Quando sentimos que temos o coração empedernido, o coração que se endurece e, permiti-me a palavra, o coração mumificado, devemos temer isto. Esta é a morte do coração. Mas para Jesus até o pecado, até o coração mumificado, nunca é a última palavra, porque Ele traz consigo a misericórdia infinita do Pai. E mesmo que toquemos o fundo, somos alcançados pela sua voz terna e forte: «Eu digo-te, levanta-te!» É bom ouvir esta palavra de Jesus dirigida a cada um de nós: «Eu digo-te, levanta-te! Vai. Levanta-te, coragem, levanta-te!» E Jesus restitui a vida à menina, restitui a vida à mulher curada: vida e fé a ambas.

Peçamos à Virgem Maria que acompanhe o nosso caminho de fé e de amor concreto, especialmente pelos necessitados. E invoquemos a sua intercessão maternal pelos nossos irmãos que sofrem no corpo e no espírito.

Papa Francisco, Angelus, Praça São Pedro, 1 de julho de 2018

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